sábado, 27 de agosto de 2011

Final de inverno: é hora de se proteger contra as doenças da primavera


Especialistas recomendam a vacinação contra varicela e caxumba antes da chegada da estação das flores.
     Mesmo controlado no Brasil, o sarampo deve ser prevenido, em razão dos casos "importados" de outros países.
  •      Mesmo antes do final do inverno, começam a aparecer surtos de doenças típicas da primavera. Em agosto, mais de 40 crianças foram afastadas de dois centros infantis de Londrina, no Paraná, por causa da varicela, a popular "catapora".
     A elevação das temperaturas sinaliza que também é hora de se proteger contra a caxumba - doença que, no ano passado, provocou três mortes no estado de São Paulo.
     Em 2007, o Centro de Vigilância Epidemiológica paulista contabilizou o aumento de mais de 400% de surtos em relação ao ano anterior.
     Foram 737 surtos contra 148, registrados em 2006. O número de casos subiu de 582 para 3.697. De janeiro a 15 de julho de 2008, houve 268 surtos, que atingiram 1.211 pessoas e provocaram uma morte.
     Embora o sarampo esteja controlado no Brasil, os especialistas recomendam a vacinação.
     "A população adulta, que nunca teve a doença, deve se vacinar, porque eventualmente surgem surtos provocados por casos 'importados' de outros países", lembra a vice-presidente da SBIm - Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Ballalai.
     Nem países desenvolvidos escapam da doença. Hoje, os Estados Unidos registram 131 casos em 17 estados. Em 2006, foi a vez de países como a Inglaterra, Alemanha, Itália e Suécia.
     Neste mesmo ano, ocorreu o último surto no Brasil. Um viajante da rota de comércio entre a Bahia e Pernambuco foi o provável responsável pela disseminação do sarampo, que atingiu 57 pessoas.
Fui contaminado, o que posso fazer?
     As vacinas contra varicela e sarampo possuem o poder de bloquear surtos desde que administradas até 72 horas após a pessoa se expor ao vírus.
     A Sanofi Pasteur, divisão de vacinas do grupo Sanofi-Aventis, disponibiliza no Brasil as vacinas internacionalmente conhecidas como Varicela Biken (contra varicela) e Trimovax (contra sarampo, caxumba e rubéola).
     Apesar de não integrar o calendário oficial de imunização, a vacina contra varicela é recomendada pela SBIm e pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
     "A varicela não é uma doença benigna como pensa boa parte das pessoas. Ela causa desconforto e provoca infecções na pele.
     Quando atinge uma mulher grávida pode causar malformações graves no feto, aborto e até a morte da criança", revela Isabela Ballalai, da SBIm.
     Como a varicela não é uma doença de notificação compulsória, o Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (Sinan) registra apenas surtos em creches, pré-escolas e escolas.
     Em 2007, o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo registrou 2.491 surtos, com 17.590 casos e 25 mortes. De janeiro a 15 de julho de 2008, já foram observados 190 surtos, 732 casos e duas mortes.
     Esses números, embora expressivos, revelam uma queda contínua nos surtos em creches paulistas, devido à vacinação de bloqueio realizada pela Secretaria de Saúde do Estado, desde 2003, quando o número de surtos ultrapassou a casa dos sete mil, atingindo mais de 50 mil crianças e provocando 60 mortes.
     "No entanto, nem sempre é possível vacinar todas as crianças após 72 horas de exposição ao vírus", observa a pediatra Lucia Bricks, gerente-médica da Sanofi Pasteur.
     Doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo, ela acredita ser essencial a introdução da vacina no calendário de rotina para redução da morbidade e mortalidade associadas à doença.
     Foi exatamente esta medida que os Estados Unidos tomaram há 13 anos, conseguindo reduzir em até 84% o número de casos, 88% das internações, 59% das consultas e 74% dos gastos médicos diretos - hospitalizações e consultas.
     "O impacto da vacinação foi evidente não apenas nos grupos alvo, mas em toda população, incluindo menores de um ano, demonstrando claramente que a vacinação em massa leva à imunidade rebanho", afirma Lucia Bricks.
     A vacinação de bloqueio de surtos em creches paulistas não teve o mesmo impacto positivo dos Estados Unidos.
     Ainda hoje ocorrem diversos casos, alguns deles resultando em mortes. O risco de complicações em crianças que frequentam creches é muito maior entre os menores de um ano.
     A médica Lucia Bricks observa que, de acordo com estudo realizado na cidade de Taubaté, "o risco de complicações nessa faixa etária é três vezes maior em relação ao verificado em crianças com idade entre um e seis anos".
     Em crianças, a varicela provoca de 250 a 500 lesões pelo corpo. A doença pode provocar três tipos de complicações.
     As mais comuns são as lesões na pele, problemas no sistema nervoso e nas vias respiratórias.
     Em jovens e adultos, o número de lesões pode chegar a mil. Nos Estados Unidos, a principal complicação nesta faixa etária é a pneumonia secundária, responsável pela morte de 10 a 20% da população em geral e 45% das gestantes.
     A cerebelite (infecção no cerebelo, órgão responsável pelo equilíbrio) é a complicação neurológica mais comum e a encefalite (inflamação no cérebro) a mais grave.
     Mesmo antes de saber que está doente, a pessoa começa a transmitir o vírus, porque os sintomas só se manifestam entre 14 a 21 dias após o contágio. Já o maior risco de transmissão ocorre 48 horas antes de surgirem os sintomas.
     Para secontrair a varicela, basta entrar em contato com as vesículas do doente ou as gotículas que ele expele pelo ar.
     Crianças com eczema e tendência hereditária para desenvolver alergias freqüentemente apresentam infecções cutâneas por bactérias, como estafilococos e streptococos.
     "Essa colonização predispõe ao maior risco de superinfecção bacteriana, quando a criança contrai a varicela. Para evitar o problema, os bebês com antecedentes pessoais ou familiares de alergia devem ser vacinados logo após completarem um ano de vida", aconselha Lucia Bricks.
     Adolescentes e adultos com predisposições alérgicas, que nunca tiveram varicela, também precisam se proteger contra a doença.
     "O tratamento das manifestações alérgicas é feito à base de corticoesteróides, substâncias químicas que tendem a aumentar o risco de complicações da varicela", lembra a médica.

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